Pesquisa traça conexões entre narcotráfico e crimes ambientais no país

Comunidades da floresta, periferias rurais e regiões do interior do Brasil estão cada vez mais conectadas nas redes nacionais e internacionais do crime organizado. A ponto de não fazer mais sentido diferenciar violência urbana da rural. Essa é a conclusão da pesquisa “Além da floresta: crimes socioambientais nas periferias”, divulgado nesta segunda-feira (19) pela Rede de Observatórios da Segurança, projeto que reúne pesquisadores do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania.
Um aspecto destacado no estudo é o processo de dominação de territórios no norte e nordeste do Brasil por facções criminosas do sudeste. Essa dominação abrange tanto áreas de fronteiras quanto cidades pequenas, centros urbanos, quilombos e aldeias indígenas. Nos últimos anos, tem havido um crescimento e diversificação de atividades ilegais, incluindo conflitos armados entre grupos rivais, tráfico de drogas e exploração ilegal de insumos florestais, além de microcriminalidades como roubos de motos e celulares.
Pesquisa mapeia crimes contra populações tradicionais e crimes ambientais
A pesquisa baseou-se em dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, fornecidos pelas secretarias de segurança pública de sete estados: Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. O estudo mapeia tanto os crimes cometidos contra populações tradicionais, como quilombolas e indígenas, quanto os crimes ambientais, incluindo grilagem de terras, exploração ilegal de madeira e garimpo em áreas não autorizadas.
Enfoque na guerra às drogas e suas consequências
Apesar da variedade e complexidade dos problemas nos estados mencionados, os pesquisadores destacam que as autoridades insistem em adotar um modelo único de ação, baseado na guerra às drogas. Isso acaba perpetuando o mesmo cenário de racismo e encarceramento da juventude negra. Os especialistas argumentam que é necessário abandonar o modelo bélico de combate às drogas e às ilegalidades, e estabelecer medidas de contenção contra o tipo de desenvolvimento que destrói a vida na floresta. Além disso, enfatizam a importância de fortalecer os órgãos de prevenção da destruição e incluir organizações indígenas, rurais, ribeirinhas e movimentos de periferia urbana no diálogo sobre a segurança.
O caso emblemático do Pará e suas atividades criminosas
O estado do Pará é apontado pelo estudo como uma região emblemática das novas configurações do crime no país. As redes do narcotráfico, lideradas por facções do Rio de Janeiro e São Paulo, se estendem por diferentes municípios do interior, como Altamira, Marabá, Parauapebas, Jacareacanga, Floresta do Araguaia e Senador José Porfírio. Essas áreas são rotas importantes não apenas para o tráfico de drogas, mas também para a exploração de madeira, contrabando de manganês e cassiterita, grilagem de terras e garimpo ilegal. As atividades estão intimamente conectadas através da ação dessas organizações criminosas e do uso dos mesmos portos e vias de escoamento.
No caminho dessas atividades ilegais, comunidades tradicionais do Pará sofrem com a violência gerada. Dados obtidos junto à Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social do Pará mostram um aumento anual dos crimes contra povos indígenas e quilombolas entre 2017 e 2022. Durante esse período, foram registradas 474 vítimas de crimes contra a vida, violações sexuais e patrimoniais.
Dados por estado reforçam a urgência de ações
A pesquisa também destaca problemas específicos em outros estados. No Ceará, por exemplo, os pesquisadores criticam a falta de dados detalhados fornecidos pelo governo estadual sobre crimes ambientais. No Maranhão, as principais questões observadas estão relacionadas às violações aos biomas nativos e à exploração de territórios de comunidades tradicionais para fins lucrativos. Em Pernambuco, houve um crescimento nos crimes socioambientais nos últimos dois anos, com destaque para incêndios florestais e maus tratos contra animais. No Rio de Janeiro, a exploração das milícias e o tráfico de animais silvestres são áreas problemáticas. Já em São Paulo, a expansão da degradação de territórios verdes ligados ao tráfico de animais e construções imobiliárias, juntamente com a luta política contra as pichações, são os principais crimes socioambientais identificados.
Em suma, o estudo revela uma preocupante conexão entre as comunidades da floresta, periferias rurais e regiões do interior do Brasil com o crime organizado. Essa realidade desafia a distinção entre violência urbana e rural. Os pesquisadores enfatizam a necessidade de abandonar o modelo de guerra às drogas e adotar medidas de prevenção da destruição ambiental, além de promover diálogos inclusivos com organizações indígenas, rurais, ribeirinhas e movimentos de periferia urbana. A urgência de ações se faz presente diante do avanço das atividades ilegais e suas consequências para as comunidades afetadas.
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